sexta-feira, 26 de abril de 2013

O poster do 25 de Abril

"[O Sérgio Guimarães] mudou de vida e tornou-se fotógrafo de publicidade. Mais uma vez, o seu talento veio ao de cima e, mais uma vez, conquistou no mercado uma posição de destaque através de trabalhos e campanhas de grande mérito e muita categoria.
Um dia, entra-me pela casa dentro e prontamente diz: 'Preciso urgentemente de 80 contos e do teu filho!'

Lá me explicou qual era a ideia que tinha na cabeça, a Tuxa esteve de acordo e fizemos um negócio. Ele entrava com a ideia e com o trabalho e nós entrávamos com o filho e as oitenta mocas. Os lucros eram a meias. E foi assim que nasceu o célebre poster do 25 de Abril em que um puto louro tenta em bicos de pés colocar um cravo no cano de uma espingarda segura por três braços, representando os ramos das Forças Armadas. Eu não pude ir à sessão em que as fotografias foram tiradas, mas o meu filho Diogo, quando chegou a casa, veio-me contar tudo, sem no entanto perceber qual a razão porque nós dizíamos para ele andar sempre com juízo e não se sujar e ali, para as fotografias, lhe tinham rasgado a camiseta e os calções e lhe tinham sujado as pernas, os braços, as mãos e a cara. Não lhe podia dizer que as razões eram de índole artística, de modo que a única explicação que encontrei foi que aquilo era a reinar, não passava de uma brincadeira e, no dia seguinte, demos-lhe um triciclo que ele andava a cobiçar por achar que o que tinha já estava velho.



Não tenho a mínima das vergonhas de dizer que ganhámos algum dinheiro com a comercialização do poster, que se vendeu até no estrangeiro, mas como não o registámos, foi utilizado por todo o lado e por toda a gente e por tudo o que era partido. O poster tinha sido impresso na Casa Portuguesa, tipografia e litografia no Bairro Alto, e, curiosamente, deixou de se vender ou pouco mais vendeu a partir do momento em que o Sérgio, num momento de loucura revolucionária, ofereceu o negativo ao Partido Comunista, que lhe acrescentou em baixo: Edições Avante, com estrela amarela e tudo. Como não havia nada escrito entre nós e o Sérgio, encolhemos os ombros e deixámos andar por não haver nada a fazer."

Pedro Bandeira Freire, in "Entrefitas e Entretelas", Guerra & Paz, 2007

1 comentário:

  1. Pretendo falar com o meu amigo sobre Sérgio Guimarães. Agradeço-lhe o favor de me contactar. Obrigado
    Luís Pinto
    lpsunshiny@gmail.com

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