Mais uma história que chegámos a pensar incluir no "Lx60": o incrível Jofi, mascote do Clube Atlético do Campo de Ourique, que em 1964, com apenas sete anos de idade, atravessou o Tejo a nado. Pensámos tentar encontrá-lo, saber o que seria feito dele, recordar com ele esse dia. A ideia ficou pelo caminho, mas o recorte da revista Flama não. Aqui fica parte do texto transcrito e a fonte da informação, para quem quiser investigar.
“Jofi”: O
mais jovem nadador que atravessou o Tejo
Jorge
Rodrigues Vieira é um garoto calmo que olha demoradamente as pessoas e fala
pouco. Desinteressa-se com facilidade do meio que o cerca, para ficar distante,
alheio ao que dizem dele e das suas façanhas. Tem sete anos.
Vive ao lado
do ringue de patinagem e logo de manhã vai para o cimento correr. Às vezes
passa lá os dias inteiros. Quando vai para a piscina ou para a praia também
passa os dias inteiros na água. Incansavelmente. Esta é aliás a sua maior
qualidade: tem uma resistência extraordinária para a sua idade.
Há dias
cometeu um feito raro, que fez chamar sobre ele as atenções gerais: atravessou
a nado o Rio Tejo, entre Trafaria e Lisboa, numa distância de, sensivelmente,
quatro mil metros. E isto porque, arrastado pela corrente, foi sair no Dafundo
quando a meta era em Pedrouços (perto de 3 000 metros).
Chamam-no
“Jofi” e começou a praticar desporto aos três anos. Ginástica, hóquei em
patins, natação. Agora está também interessando no judo e por vezes faz um
bocado de boxe com o pai. É dos frequentadores mais assíduos do Clube Atlético
do Campo de Ourique e o seu “entusiasmo” tornou-o na “mascote” do grupo.
O “Jofi” é
na realidade um caso especial de vocaçãoo para o desporto. Na classe de ginástica
salientou-se imediatamente, e tornou-se no ajudante do professor. Tem muita
força de vontade e sentido das responsabilidades. Agora tem de conciliar a
escola com o desporto. É um óptimo estudante mas...
- - Gosto mais de nada do que estudar. Também
gosto mais de nadar do que patinar.
A prova no Tejo
No dia da
prova não sentiu medo. Brincou toda a manhã e, de vez em quando, perguntava se
ainda faltava muito para começar. Partiu juntamente com outro garoto, o Hélder
Frias, de 9 anos, que já o ano passado realizara a travessia, acompanhado por
um barco de apoio onde ia o pai, o treinador e outros membros do Clube Nacional
de Natação.
A corrente
foi-o desviando do trajecto previsto e afastou-o de todos os outros
concorrentes. No barco de apoio insistiam para que tentasse nadar um pouco mais
depressa, já que não queria desistir como lhe aconselhavam. O rio parecia não
ter fim, tal a distância da outra margem. Então os do barco resolveram
afastar-se um pouco para o incitar. E o “Jofi” teve pela primeira vez medo.
Viu-se sozinho, julgou-se desamparado e pensou que nunca mais sairia do mesmo
sítio. A margem parecia fugir-lhe. Descontrolou-se um pouco. Do barco, de novo
a seu lado, o treinador perguntou-lhe se queria que ele se deitasse também à
água e nadassem os dois. O “Jofi” sentiu voltar todo o entusiasmo. Não estava
cansado, apenas desorientado por ir só. E a praia até parece que se aproximava
mais depressa.
Quando se
pôs de pé não quis que o agasalhassem. Não tinham frio nenhum. O treinador
tremia decido à temperatura da água. E enquanto todos esperavam que ele
quisesse descansar, o “Jofi”, muito calmamente, foi brincar na areia. Nadara
duas horas e dezassete minutos.
(...)
Reportagem
de Rodrigues Piteira e Fernando Dias da Costa. Fotos de Apollo e Armando Vidal.
In Flama, 1964
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