segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A dança das imagens




A palavra "guarda" tem muitos significados e todos conhecemos alguns: sentinela, carcereiro, militar. Poucos imaginamos, contudo, que também designe partes de uma fechadura ou o pano que cai do altar. O dicionário oferece muitas outras opções. Em comum há uma ideia de protecção ou vigilância. Como nos livros. Sim, os livros também têm guardas, e chamam-se mesmo assim. São as folhas que rematam as capas e antecedem o miolo. As do "Lx 60" são especialmente bonitas, tal como queríamos, e é por isso que agora ocupam o cabeçalho tanto deste blogue como da nossa página no Facebook. Equilibradas, evocativas, a introdução perfeita para a torrente de histórias, ideias e imagens que se seguem. A autora é a inigualável Margarida Girão, que se pode gabar de ter conseguido criar ordem de um caos de 500 fotografias, como explica nesta microentrevista.

1. Para começar, uma provocação: fazer colagens não é só recortar e voltar a montar ao calhas?
Não, ainda é mais fácil. Colocas cola numa folha, atiras os papéis ao ar e voilá! Nasce uma colagem. 
Construir uma colagem é muito mais que pura sorte aleatória. O meu processo criativo começa quase sempre pelo conceito. Depois deste começa a fase de procurar imagens que casem com o pretendido, e aqui começa o desafio de encontrar as imagens que desenhaste na cabeça. É normal não conseguir, e ai começa o segundo desafio - manter o conceito, mas criar outra imagem mental.  E para além de toda a questão técnica, é preciso saber observar e imaginar. Por exemplo, um cliente pede uma imagem de uma peruca com um gancho. Tenho a peruca, mas não tenho o gancho. E agora? Uma borboleta ou um bróculo podem ganhar novas funções numa colagem. Se a peruca for ruiva, um bróculo bem verdinho ficará o melhor gancho no reino das ilustrações. 
Para terminar, uma provocação: fazer colagens não é mais difícil que desenhar? 

2. Este trabalho partiu de um pedido específico do Nick, mas podes falar-nos um pouco do que tentaste criar e das tuas opções?
Quando o Nick me telefonou disse: "Tenho um trabalho que é a tua cara. Anos 60.' E eu pensei: 'Oh não!! Mas eu faço muito mais do que vintage!!" Quando o Nick disse "Lisboa" esqueci a preocupação vintage e rendi-me à cidade.  Não houve muitas opções neste trabalho,  a ideia era firme. Casar várias fotografias numa imagem. 

3. Quais foram as maiores dificuldades e como é que as superaste?
Conseguir harmonia no trabalho final foi a maior dificuldade, senão a única. Juntar várias imagens numa só como se houvesse ligação entre todas não foi propriamente fácil, principalmente porque eram só pessoas. O resultado tinha de ser divertido, mas também sério. Não ia colocar bróculos na cabeça de ninguém para solucionar um espaço vazio na ilustração. 
O Nick deu-me uma pasta com perto de 500 imagens, e eu queria experimentar todas para ter a certeza que tinha escolhido as melhores das melhores.  Havia imagens que sabia que tinha de colocar: o Raul Solnado, os noivos de Santo António, o Joaquim Agostinho, a Amália Rodrigues. Mas depois os noivos não ficavam bem com a fotografia da Io Appolloni e nem com a fotografia da Gulbenkian. Mas o Raul Solnado ficava bem ao lado dos noivos, mas ainda ficava melhor com a Gulbenkian atrás... mas espera, os noivos não casam com a imagem da Fundação Gulbenkian. E começa assim a dança das imagens. Por fim, a primeira guarda está desenhada, e quando começo a segunda começa a dança de imagens da primeira guarda para a segunda. E depois de algumas piruetas, as ilustrações finalizaram e os noivos viveram felizes para sempre. 



Mais sobre o trabalho da Margarida:
www.margaridagirao.com (site profissional)
www.magaonthebus.com (site de fotografias de viagens)

Autobiografia:
Profissionalmente, trabalho nas áreas de webdesign, ilustração, e estou a aventurar-me no mundo da animação. 
Para além do livro "LX 60", o meu trabalho inclui colaborações com a revista WIRED, a VOGUE China, a ADWEEK, o Jornal i, entre outras publicações editoriais, agências de comunicação e publicidade, quer em Portugal quer no estrangeiro. 

Estudei na Universidade de Aveiro e na Pontificie de Salamanca. Regressei a Aveiro para fazer parte da equipa de bolseiras num projecto multimédia da universidade, depois fui dar aulas de Design para a Universidade de Timor Leste, em Dili. Tive um projecto de uma revista online que se chamava Amostra, funcionava com galeria de arte para jovens criadores portugueses. Também trabalhei em produção de eventos como assistente de produção, fui designer e criativa numa revista portuguesa. Com a Inês Santiago formamos uma dupla criativa que tinha o slogan WE PREFER SHORT, isto porque fazíamos short-clips, isto é, curtas metragens animadas. A primeira foi sobre uma miúda que queria aprender a surfar. 
No ano passado fui wifi-nómada pela América do Sul, trabalhei e viajei ao mesmo tempo. Mochila às costas, portátil no braço e bilhete de autocarro na mão. 
Na área de web-design adoro sites complexos para estudar e definir toda a estrutura de navegação ainda antes de passar ao design. 
E adoro fotografia documentária. 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O primeiro reclame animado

E ainda mais esta relíquia, do primeiro filme de Mário Neves como profissional, uma encomenda para a Sonasol, de 59/60.

"Chamava-se As Aventuras do Ursinho Pardo e contava a história de um urso pardo que vivia no Pólo Norte numa tribo de ursos brancos e andava muito triste porque era diferente. Depois aparece o sabão Sonasol, ele decide lavar-se e fica branco.

O filme foi todo feito na mesa da sala de jantar da nossa casa, na Rua Oliveira Martins, perto da Praça de Londres. O meu pai levantava-se tarde e trabalhava até muito tarde também. Teve lá uma pessoa a ajudá-lo na parte de decalque para acetato e pintura. A minha mãe também o ajudou na pintura. Um amigo de infância, arquitecto e ilustrador, fez-lhe os cenários. Eu só desajudava. Depois de a coisa ter sido filmada, espalhei um rolo de filme pela sala. O meu pai deu-me uma estalada, e com razão. Foi a única vez."

Mário Jorge Neves recorda o pai, Mário Neves, in "Lx60 - A vida em Lisboa nunca mais foi a mesma"


A imagem vem daqui.

Laranjina C

"A década de 60 foi um êxito. Toda a gente conhecia os filmes. O homem não tinha um minuto de descanso. Até uma cama ao lado do estirador havia. (...) Um filme de que se orgulhava muito era o da Laranjina C. Era o primeiro em Portugal em que as personagens falavam; neste caso, tocavam música. A acção baseava-se numa música e havia perfeito sincronismo entre ambas - uma receita que ele usaria muitas mais vezes."

Mário Jorge Neves recorda o pai, Mário Neves, em "Lx60 - A vida em Lisboa nunca mais foi a mesma"




E a propósito de Mário Neves, o Walt Disney das Avenidas Novas...




O primeiro "Vitinho" da TV portuguesa. A família é a Teleóó, criada em 1967 por Mário Neves, com letra de Alexandre O'Neill e música de Eugénio Pepe.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O fim do "odor corporal"


Mais reclames vintage da Lintas para ver aqui. Vale a pena.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"O Metropolitano"

Bem dizia num comentário o leitor Cap Créus que o vídeo de apresentação do metropolitano de Lisboa andava por aí. E é imperdível.

A música do genérico faz-nos pensar que estamos prestes a assitir a um filme de Hitchcock e as primeiras cenas - os Restauradores, os autocarros de dois andares, o casal aprumado que tenta apanhar um táxi - podiam ser os primeiros instantes de uma "Intriga Nacional", mas em poucos instantes aparece Artur Agostinho que desfaz todas as dúvidas com frases como "O Lisboeta luta diariamente com esse fantasma chamado trânsito".

Ora espreitem lá aqui:


E aqui, num post antigo, podem ver outra relíquia, os manuais dos mirones.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

2ª edição!

Está confirmado: o "Lx60" avança para segunda edição e os livros já vêm a caminho.

Quem não conseguiu encontrar um exemplar nas lojas, poderá perguntar a partir do final de Fevereiro.

Assim que soubermos a data certa, avisamos por aqui e pela nossa página no Facebook.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Que será feito de Jofi?


Mais uma história que chegámos a pensar incluir no "Lx60": o incrível Jofi, mascote do Clube Atlético do Campo de Ourique, que em 1964, com apenas sete anos de idade, atravessou o Tejo a nado. Pensámos tentar encontrá-lo, saber o que seria feito dele, recordar com ele esse dia. A ideia ficou pelo caminho, mas o recorte da revista Flama não. Aqui fica parte do texto transcrito e a fonte da informação, para quem quiser investigar. 




“Jofi”: O mais jovem nadador que atravessou o Tejo

Jorge Rodrigues Vieira é um garoto calmo que olha demoradamente as pessoas e fala pouco. Desinteressa-se com facilidade do meio que o cerca, para ficar distante, alheio ao que dizem dele e das suas façanhas. Tem sete anos.

Vive ao lado do ringue de patinagem e logo de manhã vai para o cimento correr. Às vezes passa lá os dias inteiros. Quando vai para a piscina ou para a praia também passa os dias inteiros na água. Incansavelmente. Esta é aliás a sua maior qualidade: tem uma resistência extraordinária para a sua idade.

Há dias cometeu um feito raro, que fez chamar sobre ele as atenções gerais: atravessou a nado o Rio Tejo, entre Trafaria e Lisboa, numa distância de, sensivelmente, quatro mil metros. E isto porque, arrastado pela corrente, foi sair no Dafundo quando a meta era em Pedrouços (perto de 3 000 metros).

Chamam-no “Jofi” e começou a praticar desporto aos três anos. Ginástica, hóquei em patins, natação. Agora está também interessando no judo e por vezes faz um bocado de boxe com o pai. É dos frequentadores mais assíduos do Clube Atlético do Campo de Ourique e o seu “entusiasmo” tornou-o na “mascote” do grupo.

O “Jofi” é na realidade um caso especial de vocaçãoo para o desporto. Na classe de ginástica salientou-se imediatamente, e tornou-se no ajudante do professor. Tem muita força de vontade e sentido das responsabilidades. Agora tem de conciliar a escola com o desporto. É um óptimo estudante mas...

-       - Gosto mais de nada do que estudar. Também gosto mais de nadar do que patinar.

A prova no Tejo

No dia da prova não sentiu medo. Brincou toda a manhã e, de vez em quando, perguntava se ainda faltava muito para começar. Partiu juntamente com outro garoto, o Hélder Frias, de 9 anos, que já o ano passado realizara a travessia, acompanhado por um barco de apoio onde ia o pai, o treinador e outros membros do Clube Nacional de Natação.

A corrente foi-o desviando do trajecto previsto e afastou-o de todos os outros concorrentes. No barco de apoio insistiam para que tentasse nadar um pouco mais depressa, já que não queria desistir como lhe aconselhavam. O rio parecia não ter fim, tal a distância da outra margem. Então os do barco resolveram afastar-se um pouco para o incitar. E o “Jofi” teve pela primeira vez medo. Viu-se sozinho, julgou-se desamparado e pensou que nunca mais sairia do mesmo sítio. A margem parecia fugir-lhe. Descontrolou-se um pouco. Do barco, de novo a seu lado, o treinador perguntou-lhe se queria que ele se deitasse também à água e nadassem os dois. O “Jofi” sentiu voltar todo o entusiasmo. Não estava cansado, apenas desorientado por ir só. E a praia até parece que se aproximava mais depressa.
Quando se pôs de pé não quis que o agasalhassem. Não tinham frio nenhum. O treinador tremia decido à temperatura da água. E enquanto todos esperavam que ele quisesse descansar, o “Jofi”, muito calmamente, foi brincar na areia. Nadara duas horas e dezassete minutos.

(...)

Reportagem de Rodrigues Piteira e Fernando Dias da Costa. Fotos de Apollo e Armando Vidal. In Flama, 1964

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O surf chega à imprensa

"Mas eles vieram. A pouco e pouco foram chegando nas suas velhas furgonetas a tossir as últimas energias dos caducos motores. Aos poucos e lentamente percorreram toda a costa atlântica desde França até Carcavelos."


Esta é uma das primeiras se não a primeira reportagem sobre surf publicada em Portugal. Saiu na revista "O Século Ilustrado" no último trimestre de 1969. Nessa altura já Pedro Martins de Lima, o primeiro surfista português deslizava pelas ondas da Costa do Sol há quase dez anos. Essa é a história - contada na primeira pessoa, com uma vitalidade que ainda hoje nos impressiona - que escolhemos para incluir no Lx60. Para os curiosos aqui fica mais este documento.